29/07/2025 08:27:00
Como a biometria vai mudar a forma que os brasileiros pagam suas compras até 2030
Participantes do mercado de meios de pagamento colocam a biometria como a tecnologia mais promissora para transformar as transações nos próximos anos

Entre as diversas revoluções que os smartphones podem reivindicar está a transformação no modo como pagamos as nossas compras. Quem sai de casa apenas com o celular na mão consegue fazer pagamentos via Pix, cartão de crédito e cartão de débito em poucos cliques. Mas e se para fazer tudo isso nem o smartphone fosse necessário? Este é o futuro que os pagamentos via biometria pode proporcionar em larga escala no Brasil até 2030.
Nos últimos 10 anos, os smartphones dominam o crescimento em participação nos pagamentos. O valor transacionado globalmente pelos celulares em lojas físicas cresceu mais de 11 vezes entre 2014 e 2024, de US$ 1,2 trilhão para US$ 14,2 trilhões. Os dados são do Global Payments Report 2025, da Worldpay, que projeta aumento de mais 76% em 2030, com o volume transacionado chegando a US$ 25 trilhões.
Enquanto os pagamentos digitais vêm desbancando o uso do dinheiro em espécie e cartões, a biometria se coloca como adversária dos smartphones no futuro, segundo relatório da Worldpay. Se o objetivo das empresas de meios de pagamento é oferecer soluções que permitam experiências cada vez mais rápidas e seguras, o escaneamento — da face, retina, palma da mão ou digital — vem se provando como uma alternativa poderosa.
“A biometria é fundamental para nossa visão do futuro de pagamentos”, diz Leonardo Linares, vice-presidente sênior de soluções para os clientes da Mastercard Brasil, em entrevista ao InfoMoney. Já Leonardo Chaves, general manager Latam da Okto, afirma que “a biometria será uma das tecnologias mais relevantes da próxima década no Brasil; não por modismo, mas porque resolve três pontos críticos ao mesmo tempo: segurança, simplicidade e velocidade”.
Biometria já é realidade
Para quem pensa que o pagamento por biometria está em um futuro distante, uma solução da C&A pode mudar esse conceito. Em 2024, a varejista atingiu a marca de sete milhões de cartões digitais emitidos via C&A Pay, seu braço de pagamentos. Quem tem um cartão da bandeira pode fazer o reconhecimento facial em qualquer loja da rede para pagar com um sorriso, funcionalidade que todos os clientes C&A Pay usaram no ano passado, segundo a empresa.
A explicação de Fernando Brossi, vice-presidente de operações da C&A, para o investimento nessa tecnologia mostra o objetivo comum dos esforços para implantar a biometria: “é uma solução que conversa diretamente com a necessidade do nosso público por uma jornada de compra mais fluida e conectada”.
Como forma de oferecer ainda mais conveniência aos clientes, a C&A fechou uma parceria com a Meta para oferecer o pagamento de faturas via Pix no WhatsApp. No período de testes, o canal teve a melhor performance da empresa, superando email, aplicativo, site e SMS, e foi responsável pela queda de 0,6 ponto percentual na taxa de inadimplência, segundo a companhia.
O escaneamento da face, retina ou digitais ainda precisa crescer muito para ameaçar os smartphones, mas a experiência da C&A mostra que os brasileiros podem confiar em novas tecnologias se elas se mostram seguras e trazem benefícios como a diminuição de filas e mais rapidez no checkout.
“Até 2030, acreditamos que a educação digital dos brasileiros será essencial para o avanço da tecnologia; precisamos mostrar ao cliente, de forma clara, os benefícios e a proteção envolvida no uso da biometria como meio de pagamento, e acredito que até lá teremos alcançado isso”, diz Brossi.
Adeus, senhas
O objetivo da Mastercard é acabar com as senhas nos pagamentos online até 2030. A missão, que hoje pode parecer difícil, conta com o apoio da biometria. “Nossa visão de futuro é de que a biometria vai eliminar a senha e as transações com essa tecnologia no mundo online serão tão simples quanto no mundo físico”, diz Linares.
O vice-presidente conta que a empresa de pagamentos vem investindo em biometria comportamental, tecnologia que autentica o usuário a partir de uma série de observações, como a forma de olhar para a câmera, o ângulo em que a câmera está posicionada e outros critérios.
Nos pontos de venda físicos, a Mastercard vem testando tecnologias com o reconhecimento facial: “o consumidor não vai precisar sair com cartão ou celular, enxergamos evoluções na tecnologia para ser tão rápida quanto o pagamento por aproximação; acreditamos que a biometria vai se tornar cada vez mais comum para gerar uma experiência mais rápida e conveniente”.
Regulação e tecnologia
Um dos fatores de otimismo para o avanço rápido da biometria está no arcabouço regulatório e tecnológico do sistema financeiro brasileiro. Linares destaca a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como uma regulação “bem implantada” que traz segurança jurídica para o investimento em novas tecnologias de pagamento.
Do lado do arcabouço tecnológico, Pix e Open Finance se destacam como soluções que facilitam o surgimento de outras inovações.
O Pix quebrou barreiras de tempo e custo e ajudou a criar no Brasil uma cultura de pagamentos instantâneos, enquanto o Open Finance muda a lógica do sistema financeiro ao permitir que os clientes compartilhem seus dados para acessar soluções personalizadas, explica João Santos, CEO da Treeal, empresa focada em soluções de pagamentos. Ele diz que, nesse contexto, a biometria não é “apenas um recurso de segurança, mas parte de uma jornada mais fluida, com menos etapas e mais controle por parte do usuário”.
Entre os diferentes tipos de biometria, o reconhecimento facial e de impressão digital são os mais promissores, segundo Chaves. Eles são os mais funcionais no contexto brasileiro porque são acessíveis e mais fáceis de escalar, já que podem ser lidos pelos smartphones mais recentes. Além disso, a familiaridade que os usuários de smartphones têm com esse tipo de tecnologia ajuda a aumentar a adesão dos consumidores.
Já o reconhecimento biométrico via leitura de íris ou da palma da mão esbarram em barreiras como custo, infraestrutura — por não serem comuns em smartphones — e aceitação, apesar de terem potencial, segundo Santos.
Infraestrutura e segurança
A questão de segurança, citada por Santos, não é vista pelo mercado como um entrave na percepção do público sobre as novas tecnologias de pagamento via biometria. Segundo o Barómetro da Segurança Digital, feito pela Mastercard em parceria com o Datafolha no início de 2024, 80% dos consumidores brasileiros acreditam que a biometria é mais segura do que Pin e senha para autenticar pagamentos.
Para Leonardo Chaves, da Okto, a tecnologia também não é um problema. O desafio, portanto, está em ganhar escala: “o reconhecimento facial funciona, mas precisa ser amplamente aceito pelos emissores, integrados aos sistemas e adotado com confiança pelos consumidores”.
Trabalhando diretamente com o público que vem aderindo à tecnologia, Fernando Brossi, da C&A diz que entre os principais desafio está o investimento para criar uma infraestrutura tecnológica que possibilite os pagamentos por biometria. Ele lembra que “é necessário garantir que todos os pontos de venda estejam preparados para essa tecnologia e passar confiança para que o consumidor se sinta 100% seguro ao adotá-lo”.
Linares, da Mastercard, também lembra do investimento em infraestrutura como um entrave: “o estabelecimento comercial precisa implantar a tecnologia, ter aplicações, investir em dispositivos que permitam a captura das informações biométricos com segurança, existe um investimento por parte do lojista”.
Porém, com a tecnologia avançando e sendo aprovada pelos consumidores, “a infraestrutura tende a ir se desenvolvendo” à medida que bancos, lojistas, empresas de pagamento e outros envolvidos vão “construindo suas pontas”.
Em seu relatório, a Worldpay se dedica a projetar o futuro dos pagamentos e ainda vê os smartphones como o “centro das atenções”, mas admite que, no futuro, os consumidores “talvez nem precisem mais usar nenhum dispositivo, graças a biometria”. Leonardo Linares conclui que “há alguns anos, precisávamos equilibrar: para ganhar segurança, era preciso abrir mão de conveniência; o que vemos agora com a autenticação biométrica é que podemos ter os dois”.
Foto: Divulgação
Por: Leonardo Guimarães / InfoMoney
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